segunda-feira, 16 de março de 2009

Hoje é domingo


Hoje é domingo do pé de cachimbo, o vaso é de ouro que bate no touro, o touro é valente que chifra a gente, a gente é fraco que cai no buraco, o buraco é fundo...acabou o mundo”

Frase de autor desconhecido que ainda hoje habita a criança que sempre existiu na minha existência. Ditos e máximas faladas por minha mãe e meu saudoso pai que encantavam a vida da gente, e que naquela época, em que a comunicação, tocada a lenha, era feita somente através de livros e pelo rádio. Eu então morava no interior de Goiás...lá longe, onde o Judas perdeu as botas e ninguém que se tenha notícias, achou. Já nos dias atuais, num exercício de interpretação, tentarei ao meu modo enxertar essa frase que é mais uma figura de linguagem, para a vivência do cotidiano, sem contudo tirar a mágica da concepção de quem a criou sabe-se lá quando e onde. Mas vou enfrentar o dito touro e não quero cair no dito buraco e redigir uma prosopopéia mal escrita, sem nexo ou sentido algum.
Lá pelos idos dos anos sessenta em plena vivacidade da minha pré-adolescência, era costume os homens se reunirem aos domingos na única praça da minha pequena cidade para discutirem assuntos diversos, assembléia essa que tinha como tribuna as mesas do único bar e sorveteria da cidade. Nessas alturas era fino e elegante o uso do tabaco para dar aquele toque na ordem do dia. Cigarros aos maços, de fumo e palha ou os elegantes cachimbos, que era então coisa chique do mundo masculino.
A situação sócio-econômica pós Getúlio Vargas, era a priori o assunto mais discutido num país em que o parque industrial dava seus primeiros passos para desatrelar dos produtos importados que tanto oneravam os cofres da economia da sofrida republica brasileira.
Sabiam-se tudo isso através do rádio de ondas curtas, aqueles que funcionavam com imensas baterias que pesavam cerca um quilo. Energia elétrica? Quá! A incerteza era então o banquete servido àqueles senhores que esperavam pelo almoço domingueiro em casa já prestes a sair. Meu pai tinha oito filhos, digo, ainda os tem, mas se não fosse à época seu cargo de coletor estadual de tributos, não se sabe como ele daria conta de manter sua numerosa prole.
As outras famílias viviam ao Deus dará, usando da produção de hortaliças e criação de pequenos animais em casa mesmo. Outros produtos eram circunstancialmente objeto de troca. Se adoecia alguém, a morte por certo rondava de perto a casa do desafortunado. Não existia hospital, não existia nada num raio de duzentos e cinqüenta quilômetros.
O melhor recurso para uma situação como essa, o caso de meu querido e saudoso pai, foi a mudança para uma cidade pólo, que daí em diante deu suporte para que o mesmo alcançasse novos rumos e objetivos na vida, driblando a situação e deixando os urubus da morte a passar fome, comendo somente abacate maduro das árvores da sobrevivência. Nesse caso o mundo não acabou. Começou.

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